Hoje, dia 23 de fevereiro de 2019, encerro oficialmente o meu calendário 2018 de Cinema, o que torna assim possível a consolidação do meu ranking pessoal de melhores filmes lançados ao longo do ano passado. A intenção da lista é meramente lúdica pois, infelizmente, vários títulos não puderam ser assistidos por pura impossibilidade humana, de tempo ou até mesmo financeira (lembrem-se que só a Mostra de São Paulo consegue exibir mais de 300 filmes em apenas duas semanas). Mas, acredito que há diversidade e abrangência o suficiente nos 149 filmes que vi nesse período que justifiquem a sua elaboração.
Critérios: estão aptas a participarem do “Melhores Filmes de 2018” as produções que eu tenha visto em cinemas comerciais, espaços alternativos, serviços de streaming e festivais entre os dias 04 de março de 2018 e 23 de fevereiro de 2019 – o que considero o meu Ano 2018 de Cinema. O “Ano de Cinema” tem como referência a realização da cerimônia de entrega do Oscar, uma escolha que corrige, parcialmente, algumas divergências e atrasos da distribuição dos filmes no Brasil. Por exemplo: muitos filmes que chegaram ao mercado brasileiro nos dois primeiros meses deste ano são, na verdade, produções de 2018.

ANOS ANTERIORES
O ranking “Melhores Filmes de 2016” pode ser acessada aqui!
E já pelo formato atual, a lista de “Melhores Filmes de 2017” pode ser acessada aqui!
OS FINALISTAS
Todos os títulos apresentados a seguir – das menções honrosas ao TOP 15 propriamente dito – ganharam nota máxima (na cotação de 1 a 5).
Como sempre, não poderia deixar de agradecer um dos maiores entusiastas dessa minha humilde compilação e que sempre me deixa muito honrado com sua amizade e com o seu interesse por esse ranking, Alexandre Arroyo (do site De Cinéfilo Para Cinéfilo).
MENÇÃO HONROSA
Filmes que tiveram nota máxima, mas ficaram de fora do TOP 15. Eles estão elencados em ordem cronológica de lançamento/exibição e não de preferência:
- Homem-Formiga e a Vespa [Ant-Man and the Wasp – EUA, 2018]
- Missão: Impossível – Efeito Fallout [Mission: Impossible – Fallout – EUA/China/França/Noruega, 2018]
- Clementina [Idem – Brasil, 2018]
- American Chaos [Idem – EUA, 2018]
- Torre das Donzelas [Idem – Brasil, 2018]
- Bohemian Rhapsody [Idem – Reino Unido/EUA, 2018]
- As Falsas Tatuagens [Fake Tattoos – Canadá, 2017]
- Amanhã e Todos os Outros Dias [Demain et Tous Les Autres Jours – França, 2017]
E agora sim:
OS 15 MELHORES FILMES DE 2018
Lembrando que os trailers que acompanham a lista estão legendados em português (a grande maioria) ou em inglês!
Com algumas exceções, boa parte das resenhas integrantes desta publicação são inéditas aqui no Ser ou Não Sei e foram redigidas na época em que os filmes foram vistos (especialmente aqueles vistos em festivais/mostras)..
15)
ERA UMA VEZ EM NOVEMBRO [Pewnego Razu w Listopadzie – Polônia, 2017]
Marek (Grzegorz Palkowsky, de The Happiness of the World) e sua mãe (Agata Kulesza, de Ida, Agnus Dei e Guerra Fria) foram despejados pelo governo polonês. Agora, eles ficam peregrinando de um lado para outro na cidade em busca de um abrigo para sem-tetos, por ocupações clandestinas ou por alguma alma caridosa que ofereça uma cama, mesmo que temporariamente. Essa busca se complica um pouco mais com Koles, um fiel cãozinho vira-lata que insiste em não se separar deles e que não é aceito na maioria desses locais.
Se já é desumano não ter um endereço fixo, mãe e filho aqui ainda precisam se proteger das ameaças constantes que a extrema direita polonesa promove contra pessoas nessas situações através de manifestações violentas de repúdio aos sem-tetos. Embora seja uma ficção, Era Uma Vez em Novembro traz, durante o seu desfecho, imagens verídicas gravadas em 2013 durante um desses protestos.
A parte ficcional também funciona muito bem para retratar como o governo e a população comum – leia-se: classe média, representada aqui pela família da namorada de Marek – lidam com o caos social e econômico instalado na Polônia.
VISTO NA: 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
(14
AO LESTE DA SUÉCIA [Kääntöpiste – Finlândia/Suécia, 2018]
Jere (Samuel Vauramo, de Um Homem Misterioso) está voltando de trem para sua cidade e precisa se livrar todos os esteróides que estão em sua mala antes do final da viagem. Dominick (David Nzinga) é um imigrante ilegal que quer cruzar a fronteira da Finlândia com a Suécia para fugir dos policiais finlandeses. Clandestinamente na cabine dos dois está Aleksi (Andreas af Enehielm) que tem transtornos mentais.
Impulsivamente, Aleksi tenta se livrar das drogas pertencentes a Jere que acaba o matando num golpe até então inocente.
Durante Ao Leste da Suécia não é só o corpo de Aleksi que unirá os destinos de Jere e Dominick. Vera (Laura Birn, da série The Innocents da Netflix) também será um importante elo entre os dois. Ela é ex-mulher de Aleksi com quem tem uma filha e que passa a hospedar Dominick a pedido de sua sogra. Vera, por medo de uma represália de Aleksi (até então desaparecido), investe em aulas de defesa pessoal, ministrada por Jere.
O longa (dirigido e escrito por Simon Halinen) tem um grande trunfo: de humanizar ao máximo as relações nesse triângulo narrativo Jere-Vera-Francis, criando-se facilmente uma empatia do espectador para com o seu trio de protagonistas. Acrescento aqui a boa relação destes personagens com as crianças do elenco (com destaque para Saru, filho de Jere). Essas interações cumprem perfeitamente o objetivo de se estabelecer a afeição entre o público e os personagens, enquanto a verdade não vem a tona!
Isso é essencial para a resolução extremamente emocional apresentada. E se o filme não construísse seus personagens tão bem, isso não seria possível!
VISTO NA: 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
13)
ACRIMÔNIA – ELA QUER VINGANÇA [Acrimony – EUA, 2018]
Mostra o poder de vingança quando a idealização de uma vida a dois desmorona, em minúsculos pedaços, ao longo de dezoito anos. A fúria é potencializada quando uma terceira pessoa passa a viver o sonho que você tanto sonhou e idealizou.
VISTO NO: circuito comercial
(12
HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO [Spider-man: Into the Spider-Verse – EUA, 2018]
Uma animação ágil como há muito o Cinema não vê. Uma animação que, em meio à ação desenfreada, consegue utilizar com perfeição elementos gráficos clássicos das HQ’s. Some-se a esse deleite visual o humor proveniente da edição, marca registrada do Universo Marvel no cinema e outras grandes pérolas cômicas que o seu plot – a existência de múltiplos universos – pode oferecer.
VISTO NO: circuito comercial
11)
THE CLEANERS [Im Schatten der Netzwelt – Alemanha/Brasil/Holanda/Itália/EUA/Japão/Reino Unido/Suécia/Áustria/Suíça/Dinamarca/Canadá, 2018]
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VISTO NO: 23º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade
(10
ESPERA [Idem – Brasil, 2018]
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VISTO NO: 23º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade
9)
BENZINHO [Idem – Brasil, 2018]
Nos faz lembrar ou reconhecer que, não importa quão forte e violenta seja a tempestade, a (o colo da) figura materna sempre será o nosso porto seguro. O nosso ponto de acolhimento certeiro em meio ao caos. E todas as mães do mundo podem se ver representadas – com muita justiça e talento – no papel vivido por Karine Teles (de Que Horas Ela Volta).
VISTO NO: circuito alternativo
(8
A Mula [The Mule – EUA, 2018]
A internet levou a premiada floricultura de Earl Stone (Clint Eastwood, de Gran Torino e Menina de Ouro) à falência. Ao priorizar essa atividade comercial e menosprezar a sua própria família faz com essa derrota seja ainda maior. Earl não está apenas desempregado, mas desprezado pelos seus consanguíneos – especialmente sua filha Iris (Alison Eastwood, de Luta pela Liberdade). A neta, apegada a ele, é a única exceção.
Com dificuldades financeiras, Earl aceita ser recrutado pelo narcotráfico para transportar drogas de um ponto a outro do território americano. Dirigir pelas estradas era algo que ele sempre fez com gosto e maestria. Um senhor de idade jamais seria suspeito de tráfico de drogas. Ou seja, mesmo que Earl teimasse em não respeitar rotas e cronogramas, ele era uma garantia de que a carga chegasse ao seu destino final.
De outro lado, o departamento anti-drogas liderado pelo personagem de Laurence Fishburne (de Matrix e Sobre Meninos e Lobos) está sob pressão pelos resultados apáticos que vinha apresentando. Por isso, a equipe ganha o reforço do agente Colin Bates (Bradley Cooper, de Nasce uma Estrela e Sniper Americano) para alterar esses números e fechar de vez o cerco contra a entrada de drogas nos EUA.
A forma incerta de conduzir a sua carga faz Earl prosperar no ramo e dificulta muito o trabalho de Colin Bates e equipe em desmantelar esse esquema, mesmo mantendo contato com um informante interno. A ascensão de um novo chefão dentro do cartel mexicano, no entanto, faz todo esse sucesso ilegal ruir.
A Mula mostra que Clint Eastwood, com 88 anos de idade, ainda está em pleno vigor criativo – na frente e por trás das câmeras. Afinal, grande parte do magnetismo do longa possui provém de seu protagonista, com todos os seus erros, (poucos) acertos e, obviamente, a sua redenção, que a sua reaproximação com a família no final das contas.
VISTO NO: circuito comercial
7)
303 [Idem – Alemanha, 2018]
Tão bom quanto os protagonistas ganham a nossa simpatia logo nos minutos iniciais. A jornada de Jan (Anton Spieker) e Jule (Mala Emde) é extraordinária, repleta de cumplicidade, carinho, respeito e muito amor. Difícil encontrar um filme que tenha transportado esses valores para a telona com tanto afinco quanto o alemão 303.
Os dois protagonistas embarcam, ao acaso, em um motorhome por uma eurotrip para resolver suas respectivas feridas emocionais pessoais: ela em Portugal e ele na Espanha.
Na viagem, eles se tornam companheiros ideais para o amadurecimento mútuo apesar de suas constantes e intensas discussões filosóficas e/ou acadêmicas. A consideração e gentileza que os dois estabelecem entre si, mesmo dentre tanta discordância, é uma das coisas lindas que o Cinema criou em 2018. Cada um respeitando o espaço, o tempo, a privacidade do outro. Algo que precisa ser muito valorizado nos dias atuais.
VISTO NA: 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
(6
A PRECE [La Prière – França, 2018]
Aborda a trajetória extraordinária de Thomas (Anthony Bajon, de Rodin) na sua luta contra o vício em heroína. Internado contra sua vontade em uma instituição católica de reabilitação, ele trava uma batalha muito pessoal para se livrar da dependência química. Seu temperamento explosivo não o auxilia muito.
Estar cercado de garotos que já passaram pelo mesmo que ele e que parecem aceitar tão fácil agora os ensinamentos de Deus é outro fator que parece conduzir Thomas ao fracasso iminente. Com persistência, disciplina e paciência, ele acaba vendo que há sim uma solução para os seus problemas. Mas a vida pode ser muito traiçoeira em certas ocasiões!
Anthony Bajon conduz magistralmente a liderança do filme como protagonista de A Prece. Todos os créditos possíveis e imagináveis para esse jovem talento. Tem um futuro brilhante pela frente!
VISTO NA: 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
5)
CULPA [Den Skyldige – Dinamarca, 2018]
A presença do policial Asger (Jakob Cedergren, de Submarino) na central de emergências da delegacia da Dinamarca é uma medida preventiva que o órgão oficial tomou, o afastando de suas atividades rotineiras em patrulhas externas. Esse é o último plantão antes do seu julgamento.
Todas as conclusões a respeito do passado do policial são obtidas pelo roteiro de Culpa sem tirar o filme da sala de teleatendimento da polícia. Com os seus 90 minutos integrais passados dentro desse ambiente, o espectador acompanha os minutos finais do turno de Asger naquele dia. Dos pedidos de socorro propriamente dito até o encontro ocasional com conhecidos da corporação na hora de transferência das ligações.
Mas é uma suposta denúncia de sequestro que acaba exigindo toda a atenção de Asger e que acaba gerando todos os desdobramentos surpreendentes de Culpa.
O longa de Gustav Möller trabalha muito bem com a presunção de valores, o julgamento que mais usamos quando nossas conclusões precisam ser feitas baseadas apenas na audição do que ocorre. O espectador tem tanto poder de presumir os fatos quanto o próprio protagonista (seria insensato não destacar aqui o design sonoro primoroso de Culpa). E, por isso mesmo, podemos – e vamos – errar tanto quanto ele.
VISTO NA: 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
(4
SELVAGEM [Sauvage – França, 2018]
A frieza e crueldade das ruas não foram capazes de acabar, por completo, com a inocência de Leo (Félix Maritaud, de 120 Batimentos por Minuto).
A vida na rua cobra um preço muito caro que nem a prostituição conseguiria pagar. O ato de prostituir aqui é se tornar, de forma efêmera, porto seguro para outrem. Quando tudo o que Leo mais queria era aportar a sua carência nos braços de um grande amor que exita em surgir. Que exita em o corresponder.
A busca se torna implacável por um caminho pontuado por inúmeras decisões equivocadas. Para desespero daqueles que, em poucos minutos de projeção, passaram a se compadecer pelas agruras do protagonista.
VISTO NA: 9º My French Film Festival
3)
UTOYA – 22 DE JULHO: TERRORISMO NA NORUEGA [Utoya 22. Juli – Noruega, 2018]
Os momentos de respiro e tranquilidade são raros em Utøya – 22 de Julho. O filme concentra sua trama no ataque ocorrido no acampamento de férias na ilha de Utøya. O incidente que o antecedeu, uma explosão de um carro-bomba em um prédio governamental em Oslo (há 40 quilômetros da ilha) é apresentado através de gravações de câmeras de segurança. E só isso é o necessário para se impressionar com a dimensão do ocorrido.
Já na ilha, acompanhamos Kaja (Andrea Berntzen) que participa do acampamento junto com a irmã Emilie (Elli Rhiannon Müller Osbourne) e outras centenas de adolescentes. Num ambiente de profunda descontração, barulhos de tiros são ouvidos a distância. Eles passam despercebidos num primeiro instante, mas devido a insistência e a proximidade cada vez maior que eles passam a ocorrer, acabam trazendo pânico para todos da ilha.
Num ataque que durou 72 minutos, ruídos explosivos de tiros serão ouvidos até o término de Utøya – 22 de Julho. A câmera aqui é testemunha ocular do terror que os jovens viveram ali. Ela não representa o ponto de vista de nenhum personagem em específico, mas coloca o espectador no meio daquele caos. Cambaleante, a câmera permanece o tempo todo no mesmo nível dos olhos do grupo que está ao redor dela (ou no nível dos olhos da protagonista nos momentos que Kaja age isoladamente). Não é raro que muitos desses momentos se passem na altura da terra. Por isso, o design sonoro do filme chama muito atenção para a sua eficácia. Inclusive nos momentos de ausência do som.
Utøya – 22 de Julho deixa claro que seus personagens são fictícios, mas que seu roteiro foi construído a partir de depoimentos obtidos de sobreviventes. Sem dúvida, um trabalho muito bem executado e de extrema importância para os dias atuais.
VISTO NA: 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
(2
UM LUGAR SILENCIOSO [A Quiet Place, 2018]
(LEIA MAIS AQUI)
VISTO NO: circuito comercial
1)
ASSUNTO DE FAMÍLIA [Shoplifters – Japão, 2018]
Mais um filmaço de Hirokazu Koreeda (diretor do também ótimo Pais e Filhos)! Uma família que praticamente subsiste num Japão em crise. Mas é só isso mesmo?
Japão está em crise econômica. Pelo menos parte da sociedade vivencia esse momento. A família central do novo filme de Koreeda a sente diariamente, subsistindo com os parcos ganhos da matriarca Hatsue (Kirin Kiki) com sua aposentadoria.
A renda é complementada com roubos recorrentes que o pai realiza com os filhos – ainda crianças – em comércios da região. Findo mais um dia, se junta a eles uma garotinha que o senhor Shibata (Lily Franky, repetindo a parceria de Pais e Filhos com o diretor) encontrou abandonada na rua sob um rigoroso frio com sinais de violência doméstica no corpo e que rapidamente se adapta à rotina da família.
Rotina que roteiro trata de desenrolar em boa parte do filme, criando uma grande empatia com o público. Não só por nos solidarizamos com as dificuldades que passam, mas pelas pequenas alegrias que celebram no dia-a-dia. A resiliência dessa família não permite que haja uma queixa ou reclamação sequer diante de tais situações.
Com a morte de Hatsue, no entanto, esse conceito peculiar de lar passa a desmoronar lentamente, revelando que tudo aquilo que o filme nos levou a acreditar era uma mera superfície que escondia uma verdade muito mais profunda. E ao mesmo tempo tocante!
VISTO NA: 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo