Uma ousada estratégia de captura é montada por Thomas (Dylan O’Brien, da série Teen Wolf e do longa Horizonte Profundo: Desastre no Golfo) para interceptar um trem da CRUEL. O objetivo era resgatar Minho (Ki Hong Lee, de O Experimento de Aprisionamento de Stanford e 7 Desejos) e os demais adolescentes que a empresa sequestrou do acampamento de Vince (Barry Pepper, de O Resgate do Soldado Ryan e Fomos Heróis) quando o grupo foi traído por Teresa no final do filme anterior.
A eletrizante sequência que abre o filme é uma vantagem que o diretor Wes Ball (responsável por toda a trilogia) aproveita muito bem ao longo dos seus 141 minutos. Enquanto Correr ou Morrer tem que lidar com a apresentação inicial da trama e com a dinâmica da Clareira e Prova de Fogo apresenta todo um mundo pós-apocalíptico e introduz uma segunda leva de novos personagens, resta apenas ao A Cura Mortal encerrar a história apostando nas sequências de ação, em algumas surpresas reservadas pelo roteiro escrito por T.S. Nowlin e na emoção de seu desfecho.
Quando o primeiro confronto com a CRUEL é vencido por Thomas e companhia, os objetivos da missão são alcançados parcialmente, pois Minho não está presente no grupo de adolescentes liberados por eles. As atenções se voltam então para A Última Cidade, o último refúgio dos seres humanos não infectados e berço da sede da CRUEL. Por isso, o local mais provável em que Minho poderia estar e onde também Teresa (Kaya Scodelario, da série inglesa Skins e do longa Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar) ainda trabalha no projeto de obtenção da cura para a epidemia. Sem os famigerados labirintos para realizarem seus testes e com um apoio financeiro cada vez mais restrito, a doutora Ava Paige (Patricia Clarkson, de Ilha do Medo e A Festa) – auxiliada por Teresa – submete Minho a um novo labirinto obtido através de uma ilusão de ótica que provoca, nos pacientes, os mesmos picos de estresse e adrenalina que as Clareiras produziam.
A aparente prosperidade d’A Última Cidade, uma região de grandes arranha-céus envidraçados cercada por paredões de concreto, não conseguia mascarar a desigualdade do mundo pós-apocalíptico ao qual pertencia. A população menos favorecida se aglomerava na região externa da cidadela e eram furiosamente confrontados sempre que tentavam trespassar os limites da muralha existente entre eles. O contraste ficava claro com a diferença entre as luzes azuis desses enormes prédios em contraposição às fagulhas vermelhas dispostas de forma assimétrica no lado de fora d’A Última Cidade. Aqui o filme desperdiça uma boa oportunidade de implementar um aspecto mais político em sua trama, mesmo tendo elementos suficientes que favoreceriam tal discussão. A abordagem nesse sentido é toda superficial, limitando-se a um ou dois discursos mais inflamados.
Claro que nem tudo é perfeito. Alguns momentos de tensão são concluídos de forma muito simplista. Personagens coadjuvantes, por exemplo, só possuem essa função narrativa: de surgirem no lugar certo e na hora exata, exercendo mero papel de figuração nas demais ocasiões. Por outro lado, o filme consegue injetar um ar épico em suas cenas, muito prazerosas de se testemunhar devido ao uso sempre sagaz da câmera que tenta fugir do óbvio sempre que possível. Resultado da segurança com que, não só o diretor, mas também todo o elenco trabalha na franquia. Uma familiaridade que ajuda a estabelecer uma trama convincente e com fluidez na tela.
Os desafios (físicos e emocionais) do protagonista vem bem a calhar para o talento do jovem Dylan O’Brien que assume o papel de Thomas com grande desenvoltura, indo além dos esforços apenas de correr, pular ou socar alguém naquelas cenas inspiradas nos jogos de ação. O arco narrativo envolvendo a amizade deste com Newt (Thomas Brodie-Sangster, de Game of Thrones) leva a interpretação de O’Brien a um outro patamar, já que a perda de um grande amigo para a doença dos cranks é iminente. Uma dor que perdura e é utilizada até no encerramento da saga.
A Última Cidade é o palco final onde todo os conflitos de Maze Runner se reúnem e se eclodem. Thomas, além do resgate de Minho, tem que enfrentar o adoecimento de Newt e a dura realidade de reencontrar Teresa; ela, por sua vez, caminha na tênue e tensa linha de defender os interesses da CRUEL ou se redimir com colegas que enfrentam os constantes ataques de Janson (Aidan Gillen, de Rei Arthur: A Lenda da Espada e Sing Street: Música e Sonho). E cercando todos esses conflitos está a invasão d’A Última Cidade pelos rebeldes sitiados ao redor dela, resultando numa batalha de grandes proporções.
Nas respectivas épocas de lançamento de Correr ou Morrer e Prova de Fogo, eu escrevia que faltava algo a eles que impulsionasse um interesse maior do seu público pelos filmes seguintes. Apesar de ser o encerramento da trilogia de Maze Runner, A Cura Mortal (mesmo com suas falhas) consegue ser empolgante e emocionante ao mesmo tempo, sendo uma boa recompensa para aqueles que insistiram em acompanhar a franquia até aqui.
NOTA: 3/5