A inserção detalhada da audiência de conciliação no início de Custódia mostra muito bem como é delicado se decidir a respeito da guarda compartilhada de uma criança. Muito complicado levar a consideração a opinião da criança e o lado do pai e da mãe, que sempre relatarão apenas os seus respectivos aspectos positivos e de como cada um deles será um ótimo responsável ao ter a guarda do filho. Diante da juíza estava Mirian (Léa Drucker, de O Melhor Professor da Minha Vida e O Quarto Azul) e Antoine Besson (Denis Ménochet, de Bastardos Inglórios e Assassin’s Creed) decidindo o futuro do filho de Julien, de 11 anos. O veredito judicial aqui já não abrangeria mais a filha Joséphine (Mathilde Auneveux, de 16 Anos… Ou Quase), pois ela está prestes a completar a maioridade.
Uma coisa é certa. Todos aqui evitam ao máximo entrar em contato com Antoine. Joséphine nem fala mais com o pai. Mirian nem atende mais as ligações do ex-marido e nem quer manter contato visual com o dito cujo. Quando resolve comprar um novo apartamento, ela esconde o novo endereço de Antoine. Por isso, quando Julien (Thomas Gioria em seu filme de estreia) vai – por obrigação – passar alguns fins de semana com pai, este o pega na casa dos avós maternos. E sempre do portão de casa pra fora.
Num primeiro momento, todas as atitudes corroboram para uma falta de empenho de Mirian em cooperar com uma relação amigável e respeitosa que não possa prejudicar o desenvolvimento do filho. Mas, conforme o Antoine vai ganhando mais tempo de tela (já que passará a conviver mais com o filho), a sua máscara começa a cair. Surgindo um Antoine bem diferente daquele que se portava com tranquilidade diante da juíza. Diante das inúmeras negativas que recebia, ele sempre procurava um pretexto, um motivo para criar intrigas e provocar a ex-mulher. Aos poucos, o seu temperamento explosivo e comportamento agressivo ia se revelando para o espectador.
A reviravolta na trama ocorre quando, numa conversa familiar informal, Antoine descobre sem querer que Julien foi visto em um bairro que não deveria frequentar. Com muita insistência e persistência, ele passa a conhecer o novo endereço em que eles estão morando. Dentro do apartamento, ele é extremamente invasivo, entrando nos cômodos, fuxicando nas coisas das quais ele não tem mais o direito de mexer. E em todos os instantes que há um diálogo direto entre Antoine e Miriam, Julien não sai de perto da mãe, observando tudo. Nessa confrontação olho-no-olho, o diretor usa habilmente o silêncio que cria uma atmosfera sufocante, já que não sabemos o que esperar e nem qual será a reação dos personagens. Mas, a partir daqui, a situação só piora vertiginosamente!
Dias depois desse incidente, Antoine e Miriam voltam a se encontrar do lado de fora da festa de aniversário de Joséphine. E a agressão física só não ocorre porque a irmã de Miriam evita o pior. E o pesadelo nem tinha começado… No meio da madrugada seguinte, Antoine começa a tocar insistentemente a campainha, a qual Miriam e Julien não atendem, esperando vencê-lo pelo cansaço. Em vão. Antoine vai embora, mas volta ainda mais determinado a entrar naquele local e dessa vez armado com um rifle.
O desfecho de Custódia é um dos mais dilacerantes que o Cinema produziu nos últimos anos. E nada disso seria possível sem as excepcionais atuações de seu trio de protagonistas Léa Drucker, Denis Ménochet e Thomas Gioria, um valioso achado do diretor Xavier Legrand (em seu primeiro longa-metragem e que atuou em filmes como Adeus, Meninos e Amantes Constantes), que expressam com habilidade a dor, o sofrimento e a loucura de seus personagens. Outro grande talento de Xavier Legrand também é a escrita. Impressiona o poder do seu roteiro com uma competência nata de criar tensão usando apenas aquilo que a câmera mostra (ou não) e sem mais nenhum outro artifício. Algo que muitos filmes de terror, mais propensos a precisarem dessa atmosfera, falham em obter.
NOTA: 5/5