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QUANDO AS LUZES DAS MARQUISES SE APAGAM – A HISTÓRIA DA CINELÂNDIA PAULISTANA [Brasil, 2018]
O cinema demorou um certo tempo para conquistar o seu espaço no coração da cidade de São Paulo. As primeiras experiências de exibições comerciais se deu apenas após a chegada de linhas de bonde e da energia elétrica na região central na virada do século XIX para o XX. E ainda assim, de forma ambulante. Muito similar ao circo, as primeiras sessões de cinema por ali ocorriam em determinados endereços, geralmente por cerca de um mês, tempo suficiente para a saturação do público, o que obrigava a exibição se mudar para um novo lugar.
“O cinema demorou um certo período para conquistar o seu espaço no coração da cidade de São Paulo.” Nem a instalação de um endereço fixo, em 1907, fez com que o início do circuito de cinemas de ruas decolasse em São Paulo. Projeto inicial de Francisco Serrador, os grandes cinemas só teriam suas sessões inaugurais a partir da década de 1930, inspirados por outra Cinelândia: a do Rio de Janeiro. A cidade em que Francisco Serrador passou a morar depois de 1920.
A partir daí, praticamente todo ano, a região das avenidas São João e Ipiranga passou a abrigar uma (ou mais) nova abertura. Espaços majestosos e imponentes, marcos da vida e da cultura paulistana, alguns com 1.500, 3.000 lugares. Os principais endereços são enumerados pelo documentário. Entrevistas com especialistas e antigos frequentadores (como Ignácio Loyola Brandão) cuidam de contextualizar para o espectador a época, as principais características dos cinemas – o projeto arquitetônico, os diferenciais técnicos, as principais apostas em suas respectivas programações. Frequentar o cinema era um evento que exigia traje a rigor
Eis os cinemas relembrados pela produção do diretor Renato Brandão: Broadway, Art Palácio, Metro, Bandeirantes, Cine Ópera, Cine Ritz, Ipiranga, Marabá, Cine Oásis, Marrocos, Jussara, República, Olido, Cine Paissandu, Coral, Comodoro, Cine Regina, Windsor, Marco Polo, Cine Barão, Cine Metrópole e Cine Saci. A Cinelândia paulistana chegou a ter 20 cinemas operantes em 1967.
Os números de bilheteria dá uma boa dimensão do que era a Cinelândia paulistana. Dos expressivos 19 milhões de ingressos vendidos em 1940, as altas foram sucessivas e constantes até os 44 milhões de ingressos de 1960, o ano em que a estatística do público pagante começou a decair.
A popularização da televisão e o surgimento dos primeiros cinemas na região da avenida Paulista (e em outras áreas nobres da capital) deram início ao lento processo de degradação e esvaziamento da Cinelândia que perdurou até o início dos anos 2000. Apenas dois endereços hoje (Cine Olido vinculado ao circuito SPCine da prefeitura e o PlayArte Marabá) exibem filmes comerciais. As demais salas cederam espaço ou para igrejas neopentecostais ou para espaçosos estacionamentos. Ou ainda sobrevivendo duramente com exibições de filmes de sexo explícito. Tudo muito longe do requinte e da elegância registrados em seu auge.
NOTA: 4/5