FIQUE TRANQUILO! [Itália, 2011]
A (falta de interesse pela) educação é o que parecia unir os dois protagonistas deste divertido filme. Luca (Filippo Scicchitano) tem quinze anos, e já acorda com uma disposição nula de ir para escola. Em sala de aula, fones de ouvido o mantém longe do assunto discutido pela professora e passa mais tempo pelos corredores do colégio do que sentado em uma carteira.
Bruno (Fabrizio Bentivoglio), já de meia idade, é um professor que desistiu, abandonou de vez a profissão. Se mantém apenas com a escrita de biografias – a personalidade da vez é Tina (Barbora Bobulova), uma ex-vedete dos filmes pornográficos – e de aulas particulares, que geralmente se encerram antes do horário previsto. Fora essas atividades, está sempre afastando a invasão alheia de fofoqueiros em sua vida privada, pois é alvo preferido dos trabalhadores nos lugares em que frequenta.
A tranquilidade de Bruno se encerra quando a mãe de Luca vem lhe pedir um favor: que fique com o filho dela enquanto viaja por um breve período para fora do país. Espantado, ele questiona o porquê do pedido e, então, a verdade é revelada: ele é seu filho.
A convivência entre os dois vai amolecendo a relação entre eles conforme os problemas vão surgindo. Uma reclamação da escola sobre o baixo de aproveitamento de Luca, força Bruno a adotar a postura de pai (e professor) presente. E seguindo à risca o ditado de “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, o jovem vai aos poucos demonstrando o seu interesse pelos estudos. Afinal, Luca tinha apenas a atitude de um badboy, mas no fundo, no fundo sempre foi um ótimo rapaz.
E foram as habilidades docentes do Bruno no passado que salvou a pele da dupla quando Luca se envolveu, involuntariamente, com o tráfico de drogas. Fique Tranquilo! acerta em cheio no bom humor com uma trama ágil, construindo um arco narrativo compatível com o perfil de seus carismáticos personagens!
NOTA: 4/5
A VERDADE [Itália, 2017]
Gabriele (Francesco Montanari) está retornando de uma viagem de negócios da Índia como representante da empresa da família. Desde então, ele vem sendo acometido por visões levemente alteradas dos momentos que está vivendo. E que cedo ou não, acabam se concretizando.
Estressado, Gabriele encontra dificuldades de lidar com as pessoas de seu círculo íntimo. Com a namorada Michela (Nicoletta Romanoff) que sofre com o desinteresse dele desde sua chegada e com pai, uma relação que nunca teve bons momentos. Foi o pai que obrigou o filho a seguir essa carreira empresarial, distanciando-se das artes plásticas que sempre foi o seu sonho. Decidido a largar o seu emprego, Gabriele é escolhido pelo pai a assumir uma forte reformulação de quadro de funcionários, visando a demissão dos mais antigos.
Acidentes na empresa, foto do melhor amigo estampando notícia trágica em capa de jornal, uma passageira do avião que passa a ser recorrente pelos cenários da cidade… As visões são tantas e cada vez mais frequentes, que Gabriele não consegue mais distinguir o quê é real e o quê é fruto de sua imaginação.
Após um grave atropelamento do protagonista, A Verdade volta a retratar tudo aquilo que foi exposto em sua metade inicial, mas sendo uma versão alternativa, romantizada, idealizada da vida de Gabriele mostrada anteriormente. Se no início, a festa surpresa de boas vindas preparada para ele era o seu retorno da Índia, agora era a reabilitação em intensas sessões de fisioterapia (motivada pelo acidente) que permitia a sua volta para casa. Saem os problemas, a má gerência do pai, a traição de Michela e Alfredo (Lino Guanciale) e entram as suas realizações pessoais, o pai como um administrador de empresas consciente e benevolente e o nascimento de sua filha com a namorada.
Embora seja atrativo e realmente mantenha a atenção do espectador durante a construção de sua proposta narrativa, A Verdade acaba perdendo boa parte de seus pontos positivos durante a metade final. Extenso além do necessário, essa “segunda vida de Gabriele” (que não é real como o próprio diretor Giuseppe Alessio Nuzzo admitiu no dia seguinte à exibição do filme em uma das sessões da própria Mostra de Cinema Italiano) é uma quebra total de ritmo do filme.
NOTA: 3/5