Meu bem, dia desses parei pra olhar as nuvens enquanto te esperava naquele parque. Era um dia bonito, as nuvens vibravam, o sol estava otimo, havia um fundo preto.
Parei porque naquele dia eu tentaria me explicar, mas não conseguiria, então, só deitei na grama verde e olhei acima. Passava pouco do meio-dia. Não precisei procurar muito para ver duas nuvens.
Acredite ou não, a da esquerda era um homem. Barba longa, vestimenta simples, cabelos raspados. Seus músculos eram definidos naquele branco imponente e seus pés se firmavam nos céus. Via-se seu rosto, seus braços. A outra era uma mulher. Notava-se no vestido branco curto, seus cachos caídos no ombro e até olhos. Sim, olhos. Ao observar aquele rosto, havia a nítida sensação da pulsação de um olhar, mesmo sequer havendo pupila.
Estavam muito próximos, e pareciam se comunicar. Conversavam sobre milhares de coisas: como o sol forte derretida sua vida; como às vezes se sentiam tão carregados, com necessidade de esvaziamento; de como a vida de nuvem era difícil e cansativa, sem pausas.
Eu as acompanhei.
Você não chegava.
Uma hora depois, elas estavam mais à direita, juntas. Era estranho, mas adquiriam um aspecto nublado. Discutiam intensamente. Que dó delas. Eu sentia os ventos mudarem, embaixo, de direção, e elas não tinham noção da corrente fortíssima formada. Agora o olhar de ambas nuvens já não era leve. Era carregado, pesado, com pensamentos precipitados. Olhei atentamente para ambas discutindo. Mas você não chegava, então segui a observação.
Outra hora se passou e, sem elas perceberem por tanta discussão, agora estavam um pouco distantes. Tal vento tinha conseguido separá-las. Tinham que gritar para falar uma com a outra- falar não, vociferar, pois os insultos, ofensas comiam soltos. Ambas não viam o terrível acontecimento dentro de machucados e xingamentos, tanto que não aproveitaram.
O sol pousava na minha frente quando vi o rosto de desespero na nuvem da direita. Tão preocupados com uma briga, agora já não se viam. O pé do homem já não existia- ele utilizara a massa para estender a mão em direção à sua amada. Inútil. Ela não viu, pois virara de costas. Primeiro foi o pé, depois a perna, depois a outra. Ele já não respirava, jogado no céu perto de mim.
Ela sumira. Você não chegava.
Nunca chegou.
A nuvem nunca dissipou, simplesmente choveu. Depois, sol se pôs, a mulher se foi, e ele ficara ali, em minha companhia, só podendo chorar, descarregar, compartilhando de sua tristeza comigo.
Joguei as flores pro lado, pisando nela posteriormente (sem intenção), e fui pra casa.
Leo Giannoni (Literatura de Metrô)